Olá Pessoal!
Decidi escrever este artigo após o pedido do Pedro Carvalho – aka egg_power – sobre a economia do MTG em Portugal. Este é um momento raro em que não vão ler nada a meu respeito que directamente, faça propaganda à Gargula!
Mas isto de falar da economia do MTG, tal como me foi apresentado, é muito vago e até soa a ridiculo. Achei que talvez fosse aconselhável renomear a coisa, afim de se perceber sobre o que eu vou falar: Magic the Gathering – uma loja, é viável?
Esta é uma pergunta a qual me fazem todos, quer aquelas pessoas que jogam, quer as pessoas que nem sabem o que é o MTG e os seus jogos similares.
Bom, como em qualquer negócio, existem diversas variáveis que permitem o sucesso do mesmo. Destaco estas quatro que considero mais importantes:
1º Produto
2º Oferta / Procura
3º Capital
4º Know-how
Todos eles são importantissimos e vitais. Por isso, antes de se porem a pensar em abrir uma loja de MTG na vossa zona, avaliem se tem boas condições nestas variaveis.
1ª Variável Produto
Em Portugal temos como fornecedores pelas vias normais, duas empresas: A Devir e a Divercentro e depois temos através da Web, diversas lojas e agentes espalhados pelo Mundo que nos podem conseguir o material a preços mais reduzidos. A questão aqui é que os jogadores podem comprar material, mas se o fazem é, na maioria dos casos para jogar torneios sancionados. E se voces sancionam, tem que comprar pelas vias normais (Devir), pois senão, mais tarde ou mais cedo terão problemas em continuar a ser organizadores. O produto comprado à Devir não torna o jogo rentável, o que a meu ver constitui o principal problema nesta variável.
2ª Variável Oferta / Procura
Este é um item muito complexo, pois do lado da oferta, muitas vezes não há dificuldades, porque as lojas deste país, raramente competem umas com as outras. Talvez o caso de Lisboa seja excepção, mas na verdade, nem aí, se pode dizer que se trata de uma concorrência feroz. Apenas existe ao problema da concorrencia desleal entre a distribuidora e suas lojas, mas esse é um assunto tão complexo que prefiro não abordar em detalhe.
Do lado da Procura residem grandes ilusões. Muitas vezes montam-se lojas em certas localidades porque existem grupos de jogadores aí. Mas, o cliente tipo é jovem, a volatilidade deste é muito grande e um grande cliente tipo príncipe, de um momento para o outro, vira um sapo e deixa de jogar arrastando consigo inumeras pessoas.
Cabe por isso à loja fazer a prospecção de jogadores, acções de divulgação e não ficar de porta aberta, à espera que os clientes apareçam. Há que criar os grupos, há que ir atras deles. Este talvez seja o grande desafio de uma loja que se dedique a jogos como o MTG.
3ª Variável Capital
Pois é, sem dinheiro não se faz nada. Há que investir e forte. A esmagadora maioria das lojas que abrem e fecham pouco tempo depois, é motivada pela escassez de capital. O MTG tem um retorno muito lento, o que por si só o torna desde já muito pouco apetecível. Mas há que saber aguardar pelos resultados. Nunca se deve traçar objectivos muito ambiciosos. Os torneios são a galinha dos ovos de ouro para as lojas, e os torneios só tem uma boa afluência, depois da clientela estar fidelizada. E isso, pode demorar muito tempo. Há que ter noção disso.
4ª Variável Know-how
Há que conhecer o que se vende, e principalmente, como se vende. Ter um negócio implica muitas responsabilidades e muitos desafios. Considero que a maioria das pessoas, por mais inteligência que possa ter, não está habilitada a tomar em mãos uma empresa, seja de que ramo for. No MTG, pior ainda. É uma gama de produtos muito especificos e requer conhecimento profundo sobre eles. Não se pode estar a organizar torneios sem saber as regras ou vender cartas sem saber o que elas fazem.
A pergunta que fica, haverá jogadores capazes de serem bom gestores?
Conclusão:
Ter um negócio hoje em dia que viva só do MTG não é muito boa ideia. Pelo menos, como loja aberta. O acesso ao produto e ao sancionamento de provas é muito condicionado.
Fora desse modelo têm proliferado sites de vendas de singles, mas até aí, acho que já foi chão que deu uvas. Esses sites lutam agora para não desaparecer, pois são muitos e concorrem à escala global. A dança dos câmbios pode ser mortífera para donos de sites com menos recursos.
Quando me propus a ser dono da Gargula, reconheço que fui ingénuo, e se soubesse desta realidade, provavelmente não me teria metido nela. Mas já que cá estou, lutarei até ao fim para que resulte. Quem corre por gosto não cansa. Mas tenho de avisar o pessoal que não é nada fácil.
Face a isto, se estás a pensar em abrir uma loja que viva essencialmente do MTG deixo três conselhos.
1º Não o faças.
2º Segue os conselhos que te dão...
3º Se tens mesmo que o fazer, pensa muito bem...
Este artigo exprime apenas o meu conhecimento sobre a realidade em ser dono de uma Loja que vende essencialmente MTG. Acredito que algumas coisas aqui possam ser alvo de críticas, mas não sou tão pretensioso afim de me julgar dono de alguma verdade absoluta!
Cumprimentos a todos
Rui Casas Novas
Alterado a 19-11-2008 15:58:23 por egg_power