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De: Pontinha 9/23/2008 9:24:21 PM | Arbitrar o Nacional
Antes de me lançar especificamente no assunto do título, gostava de fazer uma pequena introdução. De futuro vou fazer artigos (geralmente depois de torneios grandes como PTQs, GPTs, Regionais, Nacionais, etc.), comentando eventos e situações do ponto de vista da arbitragem. Tenho consciência que a arbitragem é vista com maus olhos em Portugal e quero mudar isso. A verdade é que arbitrar é divertido, dá uma perspectiva diferente do jogo e, sobretudo, abre portas que estão ao alcance de muito poucos jogadores. É claro que não é tudo bom, mas a minha ideia é mostrar o que é e talvez despertar a curiosidade de alguns jogadores em transporem a barreira.
Quanto ao Nacional. Foi um evento calmo, mas que mais uma vez foi "povoado" por erros que não deviam existir no Magic Português. Não é para gabar o meu pais, mas Portugal tem dos melhores jogadores do Mundo (Podem não ser muitos, mas também somos um país pequeno) e temos muitos jogadores a um nível decente. Acho que todos se deviam esforçar por dar um nível superior a este nosso Torneio-Mor.
1) O primeiro grande erro que quero mencionar tem a ver com o preenchimento de decklists. No primeiro draft houveram 17 listas mal preenchidas e no segundo, mais 16. Devo dizer-vos que já arbitrei eventos de limited com mais de 1000 jogadores (e tratavam-se de GPs, ou seja, eram abertos a todos e não reservados aos melhores, como o nosso Nacional) e mesmo eu nunca tinha visto nada assim. Como é que 114 pessoas podem cometer tantos erros a fazer traços numa folha? Quando ouço dizer que há árbitros em Portugal que são incompetentes, não fico triste porque sei que o nosso nível está a melhorar a olhos vistos de ano para ano e que estamos a caminhar na direcção certa, mas e os jogadores? Será que um dia vão aprender a preencher listas?
2) O segundo erro também básico, foi a razão porque 2 jogadores foram desqualificados. Discutir o deck durante a construcção. As regras dizem que o jogador, durante um draft, deve permanecer em silêncio desde o momento em que se senta na mesa de draft até entregar a sua decklist (bem) preenchida aos árbitros. Esta é a regra. Então porque é que os jogadores insistem em gabar-se de picks, falar de que estratégia estão a seguir, mostrar decks uns aos outros, etc.? E depois ainda se queixam. Vocês quando jogam futebol e põe a mão á bola, também vão refilar com o árbitro por marcar falta? O magic é um jogo com regras e, embora um jogador não as tenha que saber todas, deve saber comportar-se durante um draft. E depois não venham mentir e dizer que não fizeram nada, porque isso ainda é pior. A pior coisa que podem fazer num torneio é mentir a um árbitro. Não posso dar enfase suficiente a isto. Se eu estiver a falar com um jogador e tiver em mente dar-lhe um warning por uma qualquer infracção simples e ele me mentir, é desqualificado no momento.
3)Neste terceiro ponto quero falar de um erro que ia custando ao Pedro Velhinho o seu lugar na equipa Nacional. Não vou entrar em pormenores neste artigo (porque o que se passou não diz respeito a mais ninguém) mas, por falta de informação, a equipa de arbitragem foi levada a acreditar que o Pedro poderia ter cometido uma infracção passivel de desqualificação. Falámos com ele e ficámos com a impressão de que ele nos estava a esconder algo. Foi decidido que ele devia jogar a sua meia final (para que a investigação não interferisse com o seu desempenho) e que voltaríamos a falar com ele mais tarde.
Entretanto, durante a ronda, percebemos que ele não tinha sido completamente claro quanto a uma questão. O problema aqui é que ele fez algo que é perfeitamente legal, mas ao mentir a um árbitro acerca disso, estaria a por-se numa posição em que seria desqualificado. Felizmente para ele, na segunda abordagem ele foi completamente sincero e explicou o que aconteceu, mas facilmente poderia ser tentado a mentir e ser desqualificado, quando na verdade não fez nada de errado. Moral da história, nunca mintam a um árbitro. Mesmo que não tenham feito nada de mal até ai, essa mentira é suficiente para serem desqualificados.
4) Neste último ponto, quero falar da única desqualificação do Nacional que ainda não abordei. Um jogador foi desqualificado por olhar para as cartas do vizinho do lado durante um draft.Esta é talvez a questão mais sensível na arbitragem, porque nunca há provas. O jogador diz que não fez nada, o árbitro diz que viu e cada um escolhe o seu lado. Geralmente os jogadores ficam do lado do jogador porque o conhecem e os árbitros ficam do lado do árbitro, porque sabem que um árbitro não tem interesse nenhum em desqualificar alguém só por desporto.
Uma coisa vos garanto, sempre que já uma desqualificação por "peeking", o árbitro viu o jogador a olhar para o lado. Pode nem ter sido de propósito... o jogador pode nem ter visto as cartas do outro jogador, mas a verdade é que estes DQs não caem do céu. Então o que fazer para não ser apanhado por acidente? Fácil, escolham um sítio para olhar e, enquanto não estão a ver as vossas cartas, olhem para ai. podem olhar para baixo (se bem que eu não recomendo porque os olhos ficam mais escondidos), podem olhar para cima, para a frente ou outro sitio qualquer. Na minha experiência, aconselho 2 métodos: Olhar para o tecto ou olhar directamente para um árbitro. A sério, esta última ideia é talvez a melhor. Olhem para um árbitro, olhos nos olhos. Ele não vai ficar com medo (espero eu) e enquanto estiverem a fazer contacto visual com um árbitro, não estão a ver cartas alheias, de certeza.
Bem, e com isto acho que cobri todas as partes mais técnicas do Nacional. Espero que tenham gostado deste artigo e gostaria de um pouco de feedback em como fazer próximas entregas.
Por agora é tudo.
Luis Ribeiro |